quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Pílulas: Cabaré

Faz mais de uma semana que eu não consigo me concentrar no trabalho. Preciso montar uma roupa de puta.
- Olha, essa vai ficar ótima! Super puta.
Meia, vestido, salto, luvas, corselete, colares, batom...
- Preciso dar um jeito nesse cabelo!
Piteira, flor, chale...
- Vou roubar um cigarro da minha mãe no sábado.
Bolsa, laquê, mousse, grampos...
- Ai, quero me vestir assim pra sempre. Fiquei muito elegante. Posso ir na padaria?

Beijo ansiedade!

Até mais


#chatiada

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Caixa de picanhas oitenta reais.

- Tem um carro da polícia ali na frente do beco. Será que aconteceu alguma coisa?
- Uai, será?

Sinal de xadrez com as mãos.

- Prenderam o marido da baixinha. Vieram avisar.
- Como assim gente? Coitada!
- Flagrante, parece que ele tava roubando car$%@
- Nossa Senhora!

Todo mundo na porta

- Roubando carne hein, vocês viram?
- Uai! Como assim carne? Tinha entendido carro. Coitado!!!! Poxa gente, roubando carne?!
- É ué, isso que eu tinha falado.

...

- Flagrante parece que são cento e vinte dias.
- É um-cinco-sete?
- Tá sabendo os números hein? Eu não sei esses códigos não. Nem geral eu já tomei.
- Ah falou viu zé!
- Tô falando.

...

- E o cara hein, preso roubando carne...
- Pois é.
- E o aluguel?
- Agora ela deve receber benefício da previdência. Por causa do filho.
- Pelo menos né.
- É.

...

- Agora eles tão com mania de picanha.
- É?
- É. Não sei quem comprou uma caixa cheia de picanha por oitenta reais dia desses.
- Roubada?
- Lógico.
- Super pouco valorizada. Nem vale o risco do roubo.

...

- Preso porque tava roubando carne!
- É tipo preso roubando galinha.
- Coitado! Coitada! Ai ai...

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

E se eu pegar ônibus com o ladrão?

Desde o dia do assalto uma coisa não me saía da cabeça: e se eu pegar ônibus com o ladrão?

Os policiais chegaram, armas em punho, quatro viaturas e pose de 007, mas os ladrões já não estavam lá fazia tempo. O chamado era apenas para fazer uma ocorrência.
Horas depois e mil quatrocentas e vinte sete visualizações dos vídeos gravados pela câmera de segurança eu só pensava que meu pneu tá bem grandinho na imagem e que eu só não podia pegar ônibus com esses ladrões.

Eles me pediram a descrição dos meliantes:

- Bom moço, deviam ser menores de idade. Não tinham barba. Ou então era problema hormonal sabe?
- Sabe aquelas tatuagens no antebraço tipo V1D4 L0K4? Então, ele tinha uma assim. Mas acho que devia ser de Jesus ou o nome da mãe, a letra era cursiva.
- É, eles levaram meu celular, deixaram cem reais pra trás. 
- A gola da camisa tava frouxa, acho que era de propaganda, não sei. Se bem que não. Devia ser de marca, eles gostam. A estampa estava bem falha.
- A arma tava enferrujada! Diz o menino aqui que tava carregada. Nem quis saber.
- Dente brilhante! Um deles tinha. É feio né? Tavam também com aqueles chinelos horrendos, não sei o nome.
- É, o banheiro não tranca por fora, ainda bem.
- Mas moço e se eu por um acaso pegar ônibus com um deles, será que eu desmaio?

Então, acho que peguei. 
Não desmaiei, mas também não tive certeza. 
E agora, e se eu pego ônibus outra vez?

Até!


Obs.: Uai, a temática de novembro é ladrão? Tomara que não! Tomara que passe o trauma e o ferrugem.
Obs. 2: Não, não tô chamando MC Rodolfinho de ladrão! É só pra ilustrar o V1D4 L0K4.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Talvez só por hoje

Talvez só por hoje eu não queira mais saber de experiências antropológicas. Nem de ônibus ou de metrô. Muito menos de trabalhar.
Por hoje eu queria ganhar dinheiro sem sair de casa, emagrecer dormindo, ou ao menos perder cinco quilos com tabletes mastigáveis.
Pode ser que eu não queira mais me assustar com bonés, camisas do Grêmio ou chinelos de péssimo gosto. Nem mesmo lembrar de dentes brilhantes ou tatuagens cursivas do Senhor.
Por hoje eu não quero aparecer no Balanço Geral. 
Talvez só por hoje, mas eu quero julgar pela aparência, estereotipar e fugir, ou não. Não quero pernas bambas, dores de cabeça e coração acelerado.
Só por hoje eu queria me lixar para a desigualdade social, para o comodismo, para a má distribuição de renda ou simplesmente para índole controversa de seilá quem. Hoje eu só queria tomar uma casquinha do Mc Donald´s e observar o mundo passar.
Não quero mais saber de cultura, cultura popular ou popular. Eu quero e não quero.
Talvez só por hoje.
Talvez só por uma semana.
Talvez pra sempre, ou até Dezembro.
Talvez eu queira apenas passar a vida brincando até que passe, pelo menos, o susto ou a lembrança do ferrugem.

Até!

Obs.: Ok, sem dramas, tá passando.