Peguei o ônibus de sempre e assentei no primeiro banco vazio que eu vi. O banco era aquele que você assenta de frente para o trocador.
Logo que eu assentei entrei naquele estado de "semi-morta" habitual. Lá pelas tantas, já na metade do caminho, senti que tinha uma pessoa me olhando fixamente. Abri mais ou menos o olho e, desesperadamente, fingi que tava dormindo.
- Tá cansada né?! Tá indo passear ou descansar?
- Uhum (olhei pela janela tentando fugir daquela tentativa de diálogo)
- Você mora perto do Del Rey?
- Não
- Ah sei... Você trabalha?
- Uhum
- Aposto que ganha bem.
- Hahahahahaha (morri)
- Você é casada?
- Hum-hum (prestes a ter um ataque de risos)
- Tem namorado?
- (silencio)
- Como é que você chama?
- Rafaela. (Socorro!)
Ele sacou o telefone do bolso. (Agora a porra ficou séria!)
- Ô Rafaela, seu telefone é da Oi?
- Não
- Vivo?
- Não, não tenho telefone.
Aí veio o golpe fatal:
- Ô Rafaela, cê tem Orkut?
- Não (não consegui mais segurar o riso, até chorei)
- E Msn?
- Também não
- Facebook, Twitter?
- Ou, não tenho nada. (lágrimas de riso)
Finalmente chegou meu ponto, levantei, dei sinal.
- Cê tá me enganando hein.
- Pois é.
Desci, nem lembrava mais o meu nome.
- Tchau Rafaela!
No dia seguinte eu não lavei o cabelo, escolhi meu moletom com capuz, peguei meu óculos de grau mais estranho e, por via das dúvidas, decidi que não pegava mais o ônibus das 18h. Afinal, a Rafaela não tava interessada na conversa.
Até a próxima.